Anilina
O "Cupim" cresceu e ganhou asas ainda maiores. Em seu primeiro EP, batizado com o nome do inseto, Paulo Camões aliou o violão de nylon a batidas eletrônicas, criando uma diluição do estereótipo da música brasileira em prol de uma universalidade do som. Agora, o cantor e compositor carioca retorna com "Anilina", um novo EP que vem para desconstruir essa sonoridade e o próprio papel do artista: pela primeira vez, Camões atua como produtor do próprio trabalho, além de assumir boa parte dos instrumentos e trazer vozes convidadas a interpretar suas músicas.
A autoprodução foi mais do que uma ideia - ela se tornou uma necessidade. "Tinha novas canções, novos anseios estéticos e uma vontade incontrolável de registrar isso tudo. Sendo assim, saí fazendo. Comprei uma controladora MIDI, peguei a guitarra de um amigo emprestada, convidei amigos baixistas para gravar e comecei", explica.
O papel dos amigos fica ainda mais evidente nas vozes de Luiza Nigri, em "Jorge", e Amber Waltz, em "Web". As faixas trazem Camões para fora da posição de intérprete e revelam ainda mais suas facetas de letrista e instrumentista. A ideia é a de construir o EP como uma viagem para o ouvinte, tornando essas vozes uma expansão do universo e das histórias que estão sendo contadas por meio das canções. Mais do que isso, elas dão o timbre perfeito para complementar a melodia.
"Em Web, a ironia do eu-lírico, uma menina viajante, saudosa do namorado que na verdade só quer revê-lo para acabar de vez com o namoro, se completa com a voz suave da Amber. E em Jorge, a voz da Luiza que fica entre o suave e um soul carregado, passa a ideia da dialética entre o bem e o mal presente na música", analisa Camões.
Completam o EP as canções "There's no love" e a música-título, ambas já lançadas. Como faixa-bônus, uma versão vaporwave de "Anilina" encerra o trabalho. Até mesmo o nome da música foi pensado de forma a apresentar essa nova sonoridade e a deixar transparecer a temática do que vem por aí.
"Escolhi Anilina porque acho um nome sonoramente bacana. Depois, pesquisando sobre o elemento químico, descobri que ele tem um paradoxo interessante: é um composto orgânico líquido de odor característico que lembra o cheiro de peixe podre, e um sabor aromático cáustico, de veneno amargo. Entretanto, é matéria prima pra diversos corantes, além de preservativos masculinos e femininos. Esse paradoxo se relaciona bastante com a visão do amor que tento passar nas canções: esse colorido que na essência tem sabor de veneno amargo", analisa o cantor.
Além da canção, o single conta ainda com um experimento do cantor: uma versão vaporwave de "Anilina". O vaporwave é uma corrente da música eletrônica que surgiu do chillwave dos anos 2010 e busca novos sentidos em elementos nostálgicos sampleados, em geral dos anos 80 e 90. Camões buscou uma nova visão para a música, ainda com o mesmo ritmo, mas gerando uma sensação completamente diferente no ouvinte.